sexta-feira, 18 de julho de 2008

SALA DE ESTAR - Teledramaturgia

O mercado de telenovelas vem aumentando exponencialmente no Brasil, um dos países que mais consome o popular e malfadado produto. Se lá pela década de 70, a disputa ocorria entre a Globo e a Tupi, com a falência desta última em 1980, a Globo passou a brigar com a Rede Manchete. A briga ia muito bem, mesmo com os altos e baixos da rede dos Bloch, até esta também falir depois do fracasso da “famosa” Brida, inspirada em romance de Paulo Coelho e protagonizada por Carolina Kasting, ainda na sua pré-fase Globo. Por algum tempo, a Vênus Platinada reinou absoluta no que concerne à teledramaturgia. Sílvio Santos, às vezes acertava e importava uns folhetins mexicanos que acabavam por incomodar a Globo, devido a boa audiência que conquistavam, como é o caso das “Três Marias” da pseudo-cantora/atriz, Thalia. Mas isso não significava uma grande ameaça.

Entramos nos anos 2000, e a Globo continua na disputa, dessa vez, com duas emissoras que se mostram cada vez mais empenhadas em consolidar um mercado de teledramaturgia respeitável: A Record e o SBT.

A Record, entre as duas é a mais ousada. Depois do fracasso Metamorphoses, que prometeu demais e cumpriu de menos, a emissora finalmente conquistou um público cativo para suas tramas e uma audiência cada vez mais crescente com A Escrava Isaura e Prova de Amor, além de fenômenos ainda mais recentes, como é o caso da ótima Vidas Opostas e da inverossímel e trash-cult Caminhos do Coração, bem como sua continuação intitulada Os Mutantes. A Record já conta também com seu próprio Projac, o RecNov, onde se concentram os estúdios e cidade cenográfica das suas telenovelas e parece que para atingir o cume, falta muito pouco.

O SBT ingressou sem sucesso na teledramaturgia, ainda nos anos 80, com telenovelas previsíveis e desastrosas. Os fracassos noventistas Cortina de Vidro e Brasileiras e Brasileiros, só vieram reafirmar isso. Já o 3º remake de Éramos Seis obteve um bom retorno, tendo feito um razoável sucesso e sendo considerada a melhor produção de todos os tempos da emissora do baú. Já as subseqüentes As Pupilas do Senhor Reitor e Sangue do Meu Sangue, apesar do elenco respeitável e do esforço

por uma bela caracterização e produção, não foram tão bem. Atualmente, o SBT investe ainda muito fracamente no setor, optando por adaptações brasileiras de dramalhões mexicanos (sem se importar muito em fugir do contexto e abrasileirá-la, fazendo de suas produções, essencialmente mexicanas) e por comprar tramas bem sucedidas da finada Rede Manchete, como aconteceu com Xica da Silva e mais recentemente com Pantanal. Ambas ajudaram a alavancar a audiência da emissora que não andava bem das pernas. Entre seus sucessos nos remakes de folhetins mexicanos encontram-se a datada Esmeralda e, talvez, a melhor de suas produções no setor de adaptações de novelas da Televisa, Canavial de Paixões, ambas protagonizadas pela ex-Sbt e atual Rede Record, Bianca Castanho.

O atual sucesso do SBT, com Pantanal, se deve a três fatores: saudosismo daqueles que acompanharam à telenovela em sua exibição original na Rede Manchete, em 1990 e estavam que não agüentavam mais de saudades de Juma, Véio do Rio e Cia; curiosidade, daqueles que não acompanharam a trama ou, que como eu, eram ainda muito pequenos na ocasião em que a novela foi exibida e têm lembranças muito esparsas dela, e querem saber o que tem de especial essa novela da qual os mais velhos tanto falam, enfim, saber a resposta para um sucesso estrondoso que chegou a fazer tremer como nunca o império global; e, por último, mas não menos importante, a qualidade e carinho com que foi escrita e produzida. Pantanal é para muitos A Novela, aquela que constitui quase um panteão ao lado de Escrava Isaura (a versão original) e Roque Santeiro. Mas apesar de tudo, não dá pra deixar passar despercebida a direção fetichista de Jayme Monjardin (uma característica sua que sempre me incomodou), aquela mania de cenas grandiosas gravadas com um fetiche sem igual, como se ele quisesse a todo custo impressionar e torná-las memoráveis, antológicas. Pode até funcionar quando é televisão, apesar de incomodar, mas no cinema não dá, vide o desastre fílmico intitulado Olga, um dos piores filmes brasileiros dessa nova safra de cinema nacional. Mas bem, aí já é outra história.

Dizem por aí, que o sucesso dos Mutantes da Record, é inexplicável. Eu acho perfeitamente compreensível. Diante das tramas repetitivas e maniqueístas da Globo (sempre tem a mocinha, o mocinho, o vilão, a gostosa, o safado mau-caráter que cai nas graças do público), essa veio com uma proposta, senão totalmente inovadora, pelo menos diferente do que estamos acostumados a ver, muito embora, a trama peque com a tosquice e inverossimilhança. E é esse aspecto trash que faz da novelinha um objeto tão cultuado pelos fãs.

Se a novela sempre foi o produto mais apreciado e popular entre os telemaníacos (a novela das 8 sempre foi e continua sendo, mesmo com a audiência baixa, o carro-chefe da Globo), agora eles devem estar fazendo a festa, com tantas propostas no gênero. Uma pena para quem já não agüentava as tramas bocejantes e leblonescas da Globo, esta que parece, vai permanecer muito tempo na disputa teledramatúrgica.