
Reality Show é uma praga. E é uma praga por três motivos. Primeiro porque são muito ruins mesmo. Não consigo apontar nada de positivo ou construtivo que um programa desses possa acrescentar a nossa vida, muito embora, comente-se sobre os valores, caráter e os relacionamentos sociais e pessoais. Mas geralmente quem assiste a reality's tá a fim de ver barraco e as gostosas semi-nuas, pouco se importando com valores, moral ou ética.
O segundo motivo é que, sendo uma praga, ela infestou toda a televisão. O
Sbt já teve, pelo menos, uns vinte reality shows. Hoje ele deu um
stop e se contenta com uns dois ou três (o da babá, que é até interessante, e o dos aspirantes a ídolos). Um dos carros-chefes da
Globo é o
Big Brother Brasil. Bem, com esta galinha dos ovos de ouro quem precisa de outro reality? A Globo, lógico. Apesar de o BBB ser o mais famoso, rentável e bem-sucedido, a Vênus Platinada, volta e meia decide investir em outro programa com um formato similar. Pode ser dentro de outras atrações da emissora mesmo (o
Luciano Huck que o diga). A
Record tem
O Aprendiz (que já mostrou sua força),
Mudando de Vida e o
Troca de Família. A
Mtv tem uns trinta. De namoros à reforma de carros. Mas o pior é que, para cada 5 realitys que a TV aberta lança, a TV fechada lança uns 200.
Sony,
E!,
Fox,
TV Senado,
TV Escola... A TV fechada está munida dessa praga. E vai do comum ao exótico. Até cirurgia plástica tem.
O terceiro motivo é que o diacho vicia. Claro, depende de você se deixar viciar.
Quando a
Casa dos Artistas estreou, nem me passou pela cabeça acompanhar diariamente a novelinha da vida real que o
Sílvio Santos "criou" inspirado num reality show holandês chamado
Big Brother. Já ouviu falar? Mas eu não tinha nada pra fazer naquele horário mesmo, então eu decidia estudar ou ficar sem fazer nada. Acontece que eu não sei estudar ou fazer nada com silêncio. Então eu ligava a TV. No Sbt. E, sim, dava uma espiadinha... quer dizer, uma olhadinha. Logo, eu não consegui escapar da praga e me pegava assistindo sempre.
Em pouco tempo, o programa enjôou. Mas a verdade é que a Casa sempre teve um problema: O que poderia ser legal - ver os artistas perdendo a pose e mostrando que na verdade são como nós reles mortais ou até piores, não justificando o fato de as pessoas ficarem chorando ou pedindo autógrafos a eles - não era, não funcionava direito. Isso porque a atração reunia uma meia dúzia de artistas decadentes, que o povo nem mais lembrava que existia, e mais uns seis desconhecidos que ainda estavam em busca de uma gravadora ou emissora de TV corajosa que lhes dessem uma oportunidade. O legal seria ver artistas em ascenção por lá. Mas claro que nenhum desses se submeteria a essa experiência. Decadentes e quase-anônimos entravam lá por uma chance de ficar em evidência. É claro, que o reality teve seus trunfos:
Supla,
Bárbara Paz,
Alexandre Frota,
Carola (artista????) e
Agnaldo Timóteo foram as pedras mais importantes do Xadrez em meio aos peões que residiram lá.
Quando apareceu o BBB, todo mundo começou a comentar. Na escola, no ônibus, na rua, na chuva e na fazenda. Por curiosidade, eu dava uma espiada para ver como era. O fato é que eu nunca consegui assistir a uma temporada inteira do programa. Vidas alheias de anônimos pouco me interessam. Mas, às vezes, é interessante assistir e ver como a Globo manipula o telespectador.
O
BBB 8 é uma prova viva disso. Só não viu quem não quis.
É só parar e analisar. Lembra do início do programa? Lá estavam todos os estereótipos. Pelo menos, aparentemente. Tinha a bela, a miss, a caipira, os bonitões, o bonzinho, os batalhadores, os inexpressivos. Mas cadê os polêmicos? E, nossa, ninguém é suficientemente carismático. Ei, e que harmonia é essa dentro da casa??? Ihhh! Isso não ajuda em nada na Guerra da Audiência!!!
Bastou. Foi lá a produção dividir a casa em duas: o grupo da comida boa e farta para um lado e o grupo da comida ruim e escassa do outro. Instalou-se um Big-Fone que também pode ser chamado de telefone da discórdia que, quem atende, ou é indicado ou tem de indicar o outro ao paredão. E, claro, alguns "bonzinhos" começaram a pôr as garrinhas de fora. E dá-lhe Barraco. O Pau comeu solto lá dentro, do jeito que o povo gosta e que Boninho aprova. A produção do programa deve estar satisfeita com o excelente trabalho que fez.
Mas houve um problema. O participante mais polêmico e popular de todos os tempos saiu faltando menos de um mês para o programa acabar. Como manter a audiência ligada em frente à tela nessas últimas semanas sem o polemista e provocativo psiquiatra com seu probleminha de preferência sexual? Ora, chama bandas famosas pra fazer show, mais festas e... que tal chamar uma atriz famosa da casa pra morar lá, nem que seja por 21 horas? Sim, pode ser também.
E foi assim que o BBB 8 funcionou. Movido a discórdia e outros temperinhos mágicos. É, a Globo sabe das coisas.
O mais curioso dos reality's é que essa fórmula é febre lá fora desde os anos 80. O Brasil descobriu o fenômeno com duas décadas de atraso. Mas nunca é tarde demais para descobrir formas bem sucedidas de entreter o público, não? Ainda que entretenimento signifique hoje algo próximo de alienação. Mas não pra se preocupar. Se os céus ajudarem, daqui a pouco, a fórmula já estará desgastada.